quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Frustração - Martha Medeiros


  Atire a primeira pedra quem nunca se sentiu frustrado. Frustrado com os acontecimentos diários, com os planos que não deram certo, com os sonhos que nem se quer se realizaram, com as pessoas, com o mundo ao redor, frustrado com a vida.Colecionamos frustrações, nos deparamos com situações que não esperavamos, achou que o emprego era seu mas a vaga já havia sido ocupada, pensou que o tão sonhado amor da sua vida havia finalmente chegado mas era apenas um cara qualquer que só veio para trazer a tona como era se sentir traída, enfim...Na crônica Frustração publicada no caderno donna da zero hora do dia 20/01 por Martha Medeiros, mostra um sentimento que não deixa escapar ninguém, que nos faz sofrer mas também nos faz crescer e que está presente em qualquer situação de nossa vida. Sem muito pra dizer, só lendo pra entender, quem conhece sabe que Martha é essencial e que em cada linha do que ela escreve está um pouco de nossa vida, um pouco do que gostaríamos de ouvir.



  Fustração - Martha Medeiros

  A história resumida: uma amiga estava há dois meses saindo com um homem bacana. Ele, perdulário em declarações de amor, a convidou para ir a Paris. Ulalá. Ela vibrou. Dez dias antes do embarque, ele mandou um e-mail dizendo que havia voltado para a ex-mulher.Sacanagem, pensamos. Mas sacanagem talvez seja um diagnóstico simplista.Ele estava tentando dar um novo rumo à sua vida, porém não contava com o assédio da ex-esposa, seu verdadeiro grande amor. Fez sua opção, e quem morreu um pouco foi minha amiga. Alguém sempre paga o pato. O assunto de hoje é uma velha conhecida de todos nós: a frustração. Jogue a primeira pedra quem já não caiu do cavalo (foi frustrado) ou roeu a corda (frustrou alguém). Somos todos experts em sonhos desfeitos. Existe coisa pior na vida, claro que existe, mas considero a frustração uma das sensações mais indigestas. O emprego é seu! Chegando ao escritório para entregar seus documentos, descobre que o posto já foi preenchido. Você quase passou no vestibular! Por uma vaga, umazinha só, ficou de fora do listão. A bolsa para estudar na Inglaterra saiu!Pena que o governo decretou um depósito compulsório de última hora e você não tem como pagá-lo. A garota que você está a fim chamou para a festa! Chegando lá, encontra a bisca agarrada no seu melhor amigo. Me veio à cabeça mais uns 456 exemplos de frustrações, algumas baseadas em experiências pessoais. Mas você tem sua própria lista para recordar, não serei tão cruel. O fato é: durma-se com esse embrulho no estômago. 
  É sabido que uma das regras de bem educar uma criança é ensiná-la a lidar com frustrações. Seu bebê amado não será alto o suficiente para ser um campeão de basquete, nem sua lindinha terá as melenas loiras necessárias para ser a princesa do teatrinho da escola. Ou você mente e desvirtua a situação para aplacar a dor dos seus rebentos, ou permite que eles enfrentem essa dolorosa seleção natural e explica: não é isso que mede a importância de alguém. Papai e mamãe te amam de qualquer jeito. Grande prêmio de consolação, pensam os baixotes.Porém, baixotes, é isso mesmo. “Papai e mamãe te amam” é tudo o que vocês precisam saber para se lixar para as coisas que não dão certo. E acreditem: um bilhão de coisas não darão certo, dos cinco aos 105 anos. Só tendo sido suficientemente amado e protegido dentro do lar para entender que o que não deu certo é uma contingência da vida e que, dependendo do nosso grau de autoconfiança, poderá causar apenas cinco dias de mau humor em vez de uma dor existencial infinita.Acredite: os cinco dias de frustração não farão mal nenhum a seu crescimento, pelo contrário, será parte fundamental dele. A dor existencial é que nos engessa e paralisa para sempre. Lido razoavelmente bem com frustrações. 
Sofro os cinco dias protocolares, e depois retiro delas alguma lição que me torne mais aderente a decepções futuras – ambiciono chegar ao dia em que a frustração não doerá nem mais cinco minutos. Conseguirei? Na verdade, não pretendo colecionar frustrações para quebrar meu recorde de resistência. Se pudesse, não sofreria mais nenhuma. Mas isso equivaleria a não estar mais disposta a viver. Então, que venham as danadas. Uma de cada vez, que sou forte, mas não sou duas.

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